Terra dos Sonhos

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Assistindo a “Terra de Sonhos” fiz algumas correlações importantes entre o tema central abordado neste magnífico filme e a realidade vivenciada por mim em minha clínica de Psicoterapia e na observação do cotidiano. Gostaria de compartilhá-las com você, que gosta de refletir e assumir papel ativo diante do seu processo de transformação pessoal. O filme aborda a história de uma família que emigra para outro país, buscando reconstruir a vida após a vivência de um grande trauma. Todos do núcleo familiar (o pai, a mãe e as duas filhas pequenas) de algum modo constroem formas de conviver com a dificuldade financeira e a morte traumática do filho de dois anos do casal. Através da tela vivenciamos junto com os personagens, os diversos matizes de sentimentos: desde a emoção exposta até a anestesia frente à condição vivida. Mas em que isso se parece com a vivência cotidiana?

Do caos social em que vivemos surgem demonstrações cada vez mais freqüentes de pessoas que buscam a anestesia como forma de sobrevivência. A perda da sensibilidade parcial ou total diante de fatos, problemas, relacionamentos serve como uma defesa contra a emoção vivenciada diante de uma realidade cada vez mais cruel e desumana. Tristeza, raiva, dor, desprazer são cada vez mais“banidos”, pagando-se um preço bastante alto: a falta de contato com os próprios sentimentos, sensações e, conseqüentemente, um descompasso entre razão e emoção – pensamento e expressão. A indústria farmacêutica cresce no bojo de uma sociedade cada vez mais desequilibrada e agradece ao uso desenfreado e indiscriminado de medicamentos para aparentemente “apaziguar o sofrimento”. Do uso indiscriminado das práticas de apaziguamento surge a perpetuação do adoecer em todas as esferas humanas (psíquica, física, social, econômica, etc).

O consultório de Psicologia é um reflexo deste caos vivenciado que desestrutura pessoas, cada vez mais frágeis em sua aparente força. Com freqüência cada vez maior, pessoas demandam que as torne fortes para lidar com as pressões cotidianas ou que lhes “retire o sofrimento”. A tolerância a sentimentos antes considerados humanos (tristeza, raiva, desprazer) torna-se cada vez menor em nossa sociedade. E com isso, há um aumento das defesas diante dos sentimentos, em detrimento da vivência espontânea e intensa das emoções. Segundo Wilhelm Reich estas defesas, denominadas por ele de “Couraças”, se materializam no corpo, atingindo o nível da musculatura, células e glândulas, alterando seu funcionamento normal e diminuindo a vivacidade do ser humano. Nossa vivacidade deve-se a conexão entre nossos sentimentos, sensações, pensamentos e ações (expressão). As couraças impedem a conexão e a expressão vital e integrada do ser como um todo. Emocionar-se significa “mover para fora” os sentimentos. Como viver relacionamentos sem expressão? Estes se encontram cada vez mais freqüentes e coerentes com as demandas de anestesia. Anestesiar-se significa não permitir o sentimento, não dar vazão e não se dar conta do sentir. Na anestesia, deixamos de viver intensamente e tornamo-nos sem expressão. Que ironia! O personagem do pai era ator e não conseguia atuar, pois se esfriara diante do trauma vivido por eles. Ironia maior é pensar que a atuação em que muitos se empenham como forma de sobrevivência lhes gasta mais energia para conter a expressão dos sentimentos do que a vivência real dos sentimentos. A tristeza ou raiva contidas pode transformar-se em Depressão futura. As emoções sem expressão buscam expressar-se no corpo e geram somatizações. Tudo o que buscamos conter, surge mais adiante com força maior e através de caminhos que podem torturar nosso corpo.

Interessante perceber que no filme, cada personagem encontra sua forma de expressar suas emoções diante do trauma e assim caminham em direção a sua cura pessoal. Na vida, podemos buscar também nossas formas de expressão. A Psicoterapia Corporal é uma ferramenta eficaz no auxílio da conexão entre sensações, sentimentos, percepção da realidade e expressão das emoções antes contidas, em um lugar seguro que prioriza acima de tudo o respeito ao tempo individual. Diferencia-se de outras possibilidades por enfocar o trabalho com o Inconsciente em conjunto com a conexão com o corpo, auxiliando a elaboração dos conteúdos que surgem durante a Psicoterapia. Possibilita o auto-conhecimento aprofundado das potencialidades individuais para lidar com as situações de conflito, permitindo o contato com a construção única e individual de transformação.

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