Terapia do amor

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Por Adriana Marques dos Santos *

          Homenageando o dia dos Namorados, trataremos neste texto das relações de amor entre casais com  diferenças de idade expressivas. Utilizaremos como meio condutor o filme “Terapia do Amor”, que teve o roteiro enriquecido com as excelentes atuações de Uma Thurman e Meryl Streep. O cinema nos serve como veículo expressivo, na medida em que o enriquecemos com a vivência do cotidiano, seja na clínica psicoterápica ou nas relações com pessoas.

O enredo de “Terapia do Amor” enfoca a relação entre um casal cuja mulher tem 37 anos e o rapaz 23.  Ela recém saída de um casamento, fazendo Psicanálise a fim de elaborar a perda;  ele jovem e despretencioso, sem rumo definido na vida. Apaixonam-se, algo que ambos não esperavam. Poderia ser simplesmente uma “relação ficante”, mas no entanto, torna-se um namoro interessante. Ela uma fotógrafa estabilizada profissionalmente e ele um artista sem apoio da família. Ela desejando uma relação estável, família, filhos… ele começando a descobrir as responsabilidades de uma vida adulta. Perguntamo-nos durante o filme se este encontro teria continuidade. O expectador torce para um sim, mas não vamos ser estraga prazeres contando o final do filme. Para nós interessa refletir sobre as possibilidades desta relação no cotidiano.

As possibilidades de manutenção de uma relação a dois passa por muitos ingredientes: amor, companheirismo, cuidado com o parceiro(a), atenção, sexo, afinidades, respeito a individualidade, interesses em comum que possibilitam as trocas, desejo de estar perto, compartilhar, crescer e ver também o outro crescer, projetos de vida em comum… e tantos outros de acordo com as propostas de vida de cada casal. Nos personagens do filme, a primeira característica que se destaca é a leveza e a intensidade da descoberta sexual. Geralmente o período de atração inicia as relações em geral, sejam ela de cunho sexual ou não (por exemplo, admiração pelo lado profissional, pela pessoa, por seu jeito de ser). A paixão, o desejo de estar junto a todo momento, o pensamento constante no outro são ingredientes de alguns relacionamentos. No entanto, outros relacionamentos se iniciam com algo mais brando: um gostar de estar junto, de compartilhar, sem o apaixonamento. Alguns relacionamentos evoluem da paixão para o amor, outros não passam pela paixão. E a relação entre estes ingredientes e a diferença de idade nos mostra inúmeros caminhos possíveis. No entanto, percebemos em nossa clínica cotidiana o quanto é fundamental a evolução da relação  para a construção de projetos em comum.

Os enredos entre casais nos quais a mulher é mais velha  ou o homem é o mais velho tangenciam uma questão importante: o desejo de ter filhos, de constituir uma família. Quando a mulher é mais velha e há uma diferença de idade considerável, talvez o homem não tenha ainda alcançado a fase de estabilização na carreira profissional e não deseje ainda ter uma família. No caso do homem mais velho, talvez este já tenha filhos e não queira ter outros no  relacionamento atual. É uma questão delicada a ser tratada com respeito a individualidade de cada um e, se o desejo é contraditório, o acordo final pode ser a separação ou a negociação entre os pares. Alguém precisará abrir mão de algo. A pergunta a ser feita: do que posso abrir mão e do que não posso?

Recordo-me de uma cliente que desejava ser mãe. Casou-se com um homem mais velho e este não desejava ter filhos. Ele tinha problemas de fertilidade e, no entanto, escondeu da parceira. Depois de um ano realizando exames, a mulher pediu que ele fizesse os seus e descobriram ser problema do homem. O casamento depois disso nunca mais foi o mesmo. A confiança ficou abalada entre ambos e a cobrança da mulher sobre o parceiro aumentou. O maior desejo de sua vida fora deixado de lado por ela mesma, pois o amava e fez sua escolha. No entanto, sua impressão foi de que ele não foi sincero na mesma medida de seu amor. A honestidade é fundamental para que o casal mantenha sua relação de forma saudável. A sinceridade nos propósitos individuais e também coletivos, a negociação deve ser sempre clara e direta. No entanto, nem sempre isso é possível, pois fatores inconscientes geralmente estão presentes em toda relação de casal. Reproduzimos os modelos mais próximos e mais conhecidos, muitas vezes sem o perceber.

A psicoterapia pode ser um veículo de reconhecimento dos  desejos e de fortalecimento pessoal, a fim de alcançar os propósitos de vida. A análise individual é fundamental para que cada parceiro possa se reconhecer enquanto indivíduo para quando retome sua relação no casal, mantenha seu foco de vida. Aprender e ver-se enquanto indivíduo em separado é fundamental para quando houver o encontro, o respeito às diferenças se mantenha, sem que estas necessariamente configurem motivo de separação. É preciso separar as individualidades para poder estar junto com qualidade.

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