Limites

Durante toda a vida aprendemos diariamente a lidar com limites.

O modo como nos relacionamos com o outro, como dizemos sim ou não, como expressamos que somos distintos do outro…tudo isso são expressões de limite. O limite entre o eu e o não-eu, entre o ser e o não ser, e também entre aquilo que eu sou, aquilo que não sou e aquilo que posso vir a ser. Conhecer estes limites é essencial a uma vida saudável, pois somente deste modo podemos escolher, optar, “segurar o leme da vida nas mãos”. Caso contrário, somos como uma “folha de papel ao sabor do vento, sem rumo e sem opções”.

No entanto, conhecer os nossos limites muitas vezes não é algo simples. Do mesmo modo que aprendemos a ter limites (por exemplo: eu posso fazer isso, mas não posso fazer aquilo), não aprendemos a escolher os limites. Ou seja, geralmente somos educados para aceitar os limites impostos socialmente, mas não a entender porque estes limites existem e porque eles são necessários ou porque devem ser respeitados. É claro que uma sociedade sem limites, regras, geraria um caos completo. No entanto, como estes limites são transmitidos? Como algo intransponível e indispensável. Muitos dos limites que aprendemos em nossas vidas tornam-se retrógrados em relação a uma vivência atual e não sabemos bem como lidar com eles. Por quê? Porque os limites nos são transmitidos muitas vezes como algo imutável, firmemente estruturado e incontestável.

A rigidez que aprendemos e com que transmitimos estes limites é extremamente antagônica ao próprio movimento da vida. Por que digo isto? Porque a vida significa estar em constante mudança. Hoje não somos a mesma pessoa que ontem. Passamos por experiências que nos permitem crescer, modificar nosso modo de pensar, sentir, enfim, esta expansão só pode ocorrer se permitirmos e se dermos espaço – um limite flexível para experienciar coisas novas. A experiência é fundamental à mudança, à modificação dos limites. Quando falo limites, refiro-me ao limite mais amplo de nossas vidas – como vivo, o que me permito experimentar, como me permito viver. Não digo com isto que devemos nos permitir tudo. Desejo expressar a necessidade de respeitarmos os nossos limites em cada experiência de vida, mas também a possibilidade de expandir e viver novas experiências, aumentando o campo perceptivo e potencial de vida.

Expandir limites, muitas vezes pode significar viver uma mesma situação de um modo distinto. Conheço uma pessoa que se encontrava em um determinado lugar que não lhe agradava naquele momento. No entanto, ela tinha duas opções: ficar naquele lugar juntamente com seu grupo ou ir embora sozinha. Resolveu permanecer naquele lugar, fez uma opção. Tinha também a opção de permanecer naquele lugar de mau humor ou tentar apreender daquela situação o máximo possível: optou por aprender coisas novas. Aquele lugar, com certeza não era frequentado por ela, portanto, uma ótima oportunidade de observar e viver coisas novas.

Na realidade, todos nós sempre temos várias opções de expandir limites. Muitas vezes não enxergamos e nos mantemos “presos” a um limite que nós mesmos nos impomos. Os nossos limites reais nós mesmos construímos a partir do momento em que temos consciência e nos possibilitamos como meta de vida “sermos eternos aprendizes”. E neste aprendizado constante que é a vida, escrevemos na linha diária de nosso viver os limites, o que podemos desenvolver, o quanto desejamos e nos permitimos crescer, desenvolver, o quanto acreditamos que somos capazes de construir.
Podemos limitar-nos a ser o que somos agora ou facilitarmos expansão daquilo que somos potencialmente, tornando-nos sempre o melhor que podemos ser a cada dia. E assim o processo de nossas vidas torna-se um caminho de várias possibilidades e nós os condutores do veículo, rumo a nossa felicidade. “Viver e não Ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…” (Gonzaguinha).

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