Aprendendo com a raiva

Raiva, sentimento que nos leva por vezes ao descontrole total, burlando limites do outro e sem resolução do conflito. Em alguns momentos nos vemos inundados de puro sentimento de raiva sem, no entanto, saber como lidar com ela. Vem a explosão ou em outro extremo, a implosão de si mesmo, gerando sintomas. O corpo surge como espelho de como estou comigo mesmo e do que faço com este sentimento. Mas, como agir em relação a situações que nos colocam frente a frente com a raiva? Como lidar com as frustrações do dia-a-dia que tanto geram este sentimento, sem sermos invadidos por ele? Como conviver com as demandas não atendidas?

Desde pequenos vivenciamos situações a partir das quais aprendemos e criamos modelos de como lidar com as frustrações. Cada indivíduo cria, a partir de suas vivências e do modo como as interpreta para si, formas distintas de relacionar-se com a insatisfação e o limite dado por outro. Alguns simplesmente sentem raiva e não conseguem relacionar-se com ela de uma forma sadia, gerando um processo auto-destrutivo – tanto no momento em que a externalizam e do modo como o fazem ou a partir do ruminar dentro de si situações inacabadas. Outros buscam evitar completamente o contato com seus sentimentos e negam a sua existência: “eu nunca sinto raiva”.Ao contrário, outros conseguem, a partir do contato com a raiva e da aceitação de sua existência, lidar de um modo mais equilibrado com seus sentimentos.
Atualmente vivenciamos um momento em que os videogames fornecem a crianças em formação o estímulo continuado a raiva, irritação, frustração. Ao mesmo tempo, junto ao estímulo falta o acompanhamento de pessoas responsáveis que estabeleçam limites ao jogo e a compensação da frustração: a presença do afeto, da troca e do acompanhamento do seu desenvolvimento. Na realidade, o que tem real valor: a frustração em si ou a falta de modelos saudáveis de como lidar com ela, a falta de limites? E como dar limites, sem que estes sejam inflexíveis, já que vivemos em uma sociedade em que cada vez mais necessitamos de flexibilidade?

O sentimento de raiva, como qualquer outro sentimento, faz parte da vida. Excluir a raiva e a frustração seria como negar o fato de que somos humanos. No entanto, a perda do contato com a minha raiva é uma das principais vias para o desconhecimento do que posso realizar a partir do que vivencio. Assassinatos, violência doméstica, dentre outros, são exemplos de perda de controle e do extrapolar os limites do outro. O burlar limites surge da tentativa de negação de sua existência. Portanto, é fundamental a aceitação de que existem limites reais e, ao mesmo tempo, de que podemos aprender a negociar com nossas demandas (aquilo que desejamos). A negociação com aquilo que desejo é uma via possível para lidar com a raiva. O quanto você quer e pode flexibilizar com o outro? Relacionamento pressupõe negociação constante, mas a negociação clara e inicial é do indivíduo consigo mesmo. A partir desta consciência, posso, então buscar o caminho do aprendizado partindo daquilo que sinto, desejo, mas me é vedado pelo limite do outro.
Somos seres potencialmente saudáveis.

Portanto, o lidar com a raiva de um modo sadio nos é possibilitado na medida em que entramos em contato com o que somos em essência. O processo de auto-conhecimento é uma via que possibilita a conscientização de como lido com os limites, as frustrações e também de desenvolvimento de novas formas de lidar com minha raiva. A assertividade – colocar na medida certa, no momento devido, para a pessoa a quem se destina – é o meio equilibrado de expressar e fechar a situação, buscando soluções viáveis para o problema. O processo de grupo Psicoterapêutico é uma das vias existentes que possibilita o conhecimento de onde estou neste momento, além do experimentar em conjunto como é lidar com limites em um ambiente seguro e com apoio terapêutico.

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