Como falar de crescimento sem o desconforto de estar onde estou neste momento? Como falar de transformação sem insatisfação com o lugar que ocupo em minha própria vida? Como iniciar um movimento sem disponibilidade para sair dos moldes que eu mesmo criei? Como atuar diferente sem perceber o modo como ajo atualmente? Como criar algo novo? Como assumir novas posturas? Como agir diante da crise interna e externa a mim mesmo? Como assumir novos papéis em minha vida? Muitos destes questionamentos surgem na cabeça de algumas pessoas. Sensíveis que estamos aos momentos de crise, tanto a nível nacional, mundial, como interno, estes são apenas reflexos de um momento que se espelha na consciência de grande parte dos seres humanos.
A crise mundial que se configura em nosso cenário atual de vida é algo que tem mobilizado muitas emoções. O medo “paira no ar”. Em pesquisa recente, divulgada por uma rádio conhecida (JB – FM), os brasileiros demonstram ter medo e estarem insatisfeitos com seu padrão de vida. O medo do desconhecido, do que está por vir, torna-se maior do que a segurança que posso ter de minha própria capacidade de superação dos momentos difíceis. A instabilidade é percebida por muitos como algo que gera incapacidade de luta pela própria sobrevivência. Os exemplos de miséria, os altos índices de desemprego, famílias desestruturadas, relações rompidas, pessoas sem “chão” e sem vislumbrar possibilidade de seguir adiante com tantas crises que se configuram. Medo, raiva da impotência, infelicidade, cenário desolador para aqueles que acompanham e vivenciam “em sua própria pele”. Crise financeira, medo de descontrole, luta desenfreada pela sobrevivência, esquecendo-se muitas vezes da Ética e do respeito aos próprios limites e aos do próximo. Necessidades pouco conhecidas, impulsividade, descontrole … painel resumido da realidade que acompanhamos, escutamos, sentimos.
E o que fazer com tantos sentimentos, confusões, impotência? Negá-los? Por certo este é o caminho que muitos decidem seguir em suas vidas. A negação daquilo que estou vivenciando é uma das facetas que posso assumir, imaginando que seja a mais fácil e equilibrada. No entanto, a negação daquilo que sinto é também a negação daquilo que sou e a busca de esquecimento da dor. Sim, o desejo primeiro é a superação da dor, angústia, como se esta fosse o real problema e a origem de tudo. Quando buscamos a cura de um sintoma, buscamos o alívio da angústia, da dor. No entanto, a dor pode ser “mascarada”, permanecendo aquilo que a criou, mantendo-se aquilo que poderia ser o nosso primeiro sinal de que onde estou é desfavorável para mim mesmo. Esta dor, angústia a que tanto rejeito, pode ser meu maior aliado para processar aquilo que é percebido como mais difícil: a mudança em minha vida. Não estou aqui fazendo apologia ao “Masoquismo” ou ao cultivo desenfreado da dor. Estou apenas alertando para a importância de estar atento ao significado que esta dor assume em minha vida. Ela pode ser o caminho para iniciar uma busca distinta da que assumi até o momento em minha vida.
A angústia com a qual convivemos pode ser o nosso elo de ligação com a possibilidade de construir algo novo. Se me permito vivenciá-la para ouvir, sentir, perceber o que eu mesmo necessito, estarei utilizando-a como facilitador de meu processo de mudança. Claro, a crença de que é possível sentir, perceber, viver, construir algo novo é essencial para todo este processo. Mudança, crise, são processos correlatos que se complementam e facilitam a mim mesmo perceber coisas que antes não percebia. A esperança e a crença no próprio potencial de superação são necessários para que eu possa concretizar atitudes de investimento em mim mesmo. Processos de mudança implicam em disponibilidade, entrega e, acima de tudo, na aceitação daquilo que sou hoje e do que vivencio neste momento. O hoje é a esperança para aquilo que posso construir amanhã e é o momento da consciência de onde estou, passo inicial para estimar onde desejo chegar e como posso alcançar este novo lugar.
O processo de Psicoterapia, individual ou em grupos, é um caminho facilitador deste contato com as diversas possibilidades e, principalmente com o que sou. O maior trunfo que posso ter na vida é o conhecimento daquilo que sou, aceitando-me para então permitir a mim mesmo o desapego dos padrões que até então cultivei em minha vida. Permitir a entrada do novo significa despedir-me daquilo que já conheço, desapegando-me e permitindo-me viver, sem culpas, do modo que mereço. A felicidade se constrói no dia-a-dia, na inteireza do viver cotidiano em contato com o que sou. Ser pleno, ser inteiro, ser … Crise – oportunidade de contato com potenciais desconhecidos e com minha capacidade de integrá-los ao ser que construo a cada dia de vida.
[optin-cat id=”1065″]