Recuperando o prazer de viver

Publicado no Jornal Prana no ano de 2006.

          Certa vez perguntei a um cliente o que entendia por “prazer”. Este me disse: “é se divertir, sair daquilo que nos entedia, fazer algo diferente.” Mas, será que fazer algo diferente, necessariamente dá prazer? – retruquei. Ele concluiu que não e que, na maior parte das vezes, sentia-se entediado sem saber o porquê e sem conseguir alterar muito sua situação. Por isso viera buscar auxílio na psicoterapia. Fazia uso abusivo de álcool para “esquecer o profundo vazio e falta de sentido de sua vida”.  Esta pessoa me fez pensar, além de sentir, como é importante viver de forma prazerosa! No entanto, o quanto somos tolhidos em nossa busca e, diversas vezes, confundimos prazer com excessos e fuga.

           Na realidade, a busca pelo prazer sempre esteve presente nas sociedades em geral. Atualmente percebemos um movimento frenético em busca do divertimento em contraposição ao trabalho compulsivo e excessivo. Muitas pessoas saem de férias e retornam ao trabalho mais cansadas do que antes, necessitando de outras férias para se recuperarem das anteriores. É como se a todo momento tudo necessitasse ser extremamente calculado, para que todos os momentos sejam preenchidos, sem que se respeite o ritmo do próprio corpo e sua necessidade real de pausa para recuperação. Wilhelm Reich pontuava muito bem acerca do movimento de contração e expansão presente em todos os organismos vivos. O prazer surge da entrega a este ritmo próprio de cada organismo. Em alguns momentos necessitamos estar em ambientes que nos propiciem a vivência da expansão – uma festa, uma reunião entre amigos, etc. Em outros momentos, necessitamos estar mais quietos, descansando (em contração). O respeito a este ritmo, grande desafio em nossa sociedade eufórica que nos estimula a “sempre fazermos algo”, é uma das vias para contatar com o prazer. E como perdemos o contato com este ritmo!

Outra reflexão que adveio deste cliente é: o quanto a busca de entretenimento excessivo e de forma distorcida, pode funcionar como uma fuga dos reais problemas, conflitos e sentimentos intoleráveis.  O que quero dizer é: nem tudo que aparenta ser diversão gera prazer. O excesso por si só, gera desprazer. E se fugimos constantemente daquilo que sentimos, em algum momento este sentimento se expressará, provavelmente através de um processo de adoecimento. O alcoolismo, o uso abusivo de drogas, a depressão e o trabalho compulsivo são alguns exemplos.

Segundo a abordagem da Psicoterapia Corporal,  prazer é o fluxo de sentimentos e sensações que nos propiciam o contato, a fluidez e a espontaneidade no aqui e agora. Segundo Reich, as couraças (defesas contra o medo que se inscrevem no corpo, criando restrições ao livre fluxo energético) diminuem a vitalidade do corpo, gerando desprazer. Como a prática da psicoterapia corporal se baseia na percepção de que corpo e mente são um todo integrado, entende-se a perda da vitalidade como a restrição gerada pelas questões emocionais condicionada a uma mudança no funcionamento do corpo. Portanto a atuação do psicoterapeuta será baseada na elaboração dos conflitos em conjunto com o trabalho corporal (respiração, massagens, trabalhos de ampliação da auto-consciência e percepção de si e do mundo), estimulando o contato com as próprias necessidades, desejos e a retomada da vitalidade necessária a busca do prazer de viver.

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