A Arte da Psicoterapia

Decidi abordar o tema da importância da qualidade no atendimento psicológico/psicoterápico em função da observação de algumas distorções acerca da formação do profissional desta área. Também o desconhecimento do real papel do Psicólogo é algo relevante para entendermos a importância da formação de base do profissional.

Falar em qualidade no atendimento implica em rever não apenas a formação de base do profissional de Psicologia, como também o constante investimento deste em seu desenvolvimento técnico, teórico, prático e pessoal. Não basta o conhecimento de diversas abordagens teóricas ou das inúmeras ferramentas de intervenção. Estas são condições fundamentais para o começo de toda uma caminhada. No entanto, nada serão sem a disponibilidade do psicoterapeuta de passar também pelo processo de auto-conhecimento. Conhecer as próprias feridas faz parte da construção da base necessária para, só então, auxiliar o outro na cura de si mesmo.

O psicólogo/psicoterapeuta assume um papel de extrema importância nos dias de hoje. O número de pessoas que necessitam de atendimento psicoterápico aumenta a cada dia. Pessoas em sofrimento dos mais diversos tipos buscam este tipo de apoio ou meio de transformar aquilo com que têm dificuldade. Ao mesmo tempo encontramos uma grande oferta de profissionais das mais diversas áreas de atendimento, oferecendo técnicas as mais distintas para auxiliar o próximo. Não desqualifico tais técnicas, apenas gosto da clareza quanto ao tipo de atendimento oferecido ao cliente. O tipo de formação, tempo e processo individual de cada profissional também é de suma importância para o bom atendimento. Quanto menor o investimento em conhecimento profissional e auto-conhecimento, maior a possibilidade deste profissional permitir, muitas vezes por desconhecimento próprio, o desenrolar de situações extremamente nocivas para aquele que busca auxílio e para o próprio psicoterapeuta. Um bom exemplo é quando entra em cena o que chamamos de “Contratransferência”, ou seja, aspectos não trabalhados no próprio psicoterapeuta aparecem quando o cliente mostra um aspecto parecido que funciona como um “anzol” no qual o profissional é “fisgado”. Um exemplo freqüente é quando o profissional “descarrega” em seu paciente questões pessoais não resolvidas, por ele. Este mecanismo quando não reconhecido, pode gerar uma impossibilidade no atendimento daquela pessoa. Quando esta dificuldade não é reconhecida logo, pode gerar um ataque por parte do psicoterapeuta ao cliente. Os desfechos possíveis têm variados aspectos, podendo terminar em um processo de adoecimento do cliente, de criação de uma dependência exagerada do cliente em relação ao seu psicoterapeuta, em reforço de características do paciente que deveriam ser parte do trabalho terapêutico de melhora, dentre outros.
Quando o paciente busca este profissional tem o direito de perguntar coisas essenciais: qual sua formação, em que consiste seu trabalho, qual o tipo de trabalho este profissional desenvolve consigo mesmo (se este profissional também faz ou fêz psicoterapia ou algum outro tipo de trabalho de auto-conhecimento). Ser psicoterapeuta daquele que pede ajuda implica em primeiro conhecer as próprias dificuldades, sofrimentos e como estes se tornam ou não presentes no momento atual de vida.

Outro ponto importante é que um bom psicólogo/ psicoterapeuta não se faz “do dia para a noite”. Vemos que em nosso momento atual de vida, muitas pessoas desejam atuar neste campo profissional com objetivo de “ganhar logo seu sustento”. No entanto, esquecem ou desconhecem que ser psicólogo/ psicoterapeuta vai muito além do “bate-papo” entre amigos ou de simplesmente ouvir o que o outro diz, sem nada responder. Assumir não apenas o papel de psicólogo, mas a função de algo mais que o outro nos demanda, implica em formação continuada (investimento em formação técnica e teórica constante, bem como no processo pessoal de auto-conhecimento, dentre outros). Escutar além do que nos é dito, ver além do que nos é mostrado, implica na integração pessoal do psicólogo entre sensação, sentimento, intuição e conhecimento.

Perceber o que fazer com isso, como implicar o cliente em seu processo de crescimento e transformação, não apenas os livros ensinam… É como a arte: muitos desejam ser artistas, podem conhecer a técnica, mas destes muitos, alguns desenvolvem realmente aquilo que dá significado ao que é ser artista. Ser psicoterapeuta é uma arte. A arte do conviver com empatia com o paciente e ser paciente, respeitando a individualidade, integridade e potencial de cura espontânea existente dentro de cada ser humano.

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