Amar e ser Amado

Vivemos numa sociedade onde o apelo sexual intenso, seja através da mídia, jornais, revistas, sobrepuja muitas vezes o sentimento verdadeiro. O gostar e o amar assumem o lugar de pseudo-importância mesmo que, na realidade, seja para muitas um desejo ou uma utopia. A sexualidade plena e integrada é substituída pelo consumismo sexual que busca ocupar o lugar do extremo vazio, solidão, desqualificação de si. O amar se transforma em uma necessidade de suprir ao outro, em busca de, na realidade, preencher a si mesma, possuir o objeto amado, tê-lo para si. O ser amado passa a ser uma consequência, um retorno que se espera a partir de todo o investimento que se faz no outro.
Dentro de todo este contexto que vivemos e, muitas vezes reproduzimos, o que podemos realmente construir enquanto relação?
O que podemos esperar do outro e o que podemos realmente oferecer, quando exigimos muito mais ter o outro do que viver a relação?
E o que podemos fazer quando não temos uma boa relação com aquilo que somos? Exigências, cobranças de algo que o outro não pode nos oferecer, necessidade de preencher algo que não se sabe bem o que é. Ímpeto de que o outro nos proporcione aquilo, exatamente aquilo que nós mesmas não podemos nos proporcionar: amor. E como amar o outro, se não sabemos o que é amar? Como estar em relação se não sabemos como nos relacionar? Se nos ensinaram e nós aprendemos que amar é possuir, é ter o direito de posse. Como amar e ser amada, se só acreditamos que somos amadas pelo outro e que ele é quem deve afirmar o amor a que temos direito?
Amor é fluidez, é sentimento não sujeito a prisão, mas sentimento vívido, real, forte. E o que fazemos com esse sentimento, com essa energia que move o mundo? O que estamos fazendo com nossa energia de amor? Diz a sabedoria popular que “quando estamos apaixonadas, ficamos mais bonitas”, por quê? O amor flui e tudo o que flui dá vida. Como uma cachoeira ou como o mar, com seu movimento próprio, deixam fluir, são belos, harmoniosos. Quando há algum ponto onde a água não flui, ela apodrece…como tudo o que vivemos. Tudo que impede o movimento, gera contração, não crescimento, morte de uma parte de si. Tudo o que possibilita o movimento, gera uma energia que se expande, de vida, de crescimento. O amor vivenciado de forma plena, saudável, gera expansão.
O amor baseado no outro e focado apenas no outro, é um modo de aprisionar-se. Quando falo de amor, significa todos os tipos de amor, seja ele fraterno, paixão, etc. O amor focado em equilíbrio entre minhas necessidades e as necessidades do outro é um amor que flui, vivo. O amor que parte do sentimento que existe dentro de mim mesma, que me possibilito experimentar, facilita a vivência real e expressiva do amor pelo outro. Amar a mim mesma é o caminho para amar ao outro intensamente, fluidamente. Respeitar as minhas necessidades é saber respeitar ao outro. Conhecendo-me, amando-me , reconheço o outro que necessito e aceito suas diferenças, seu modo de ser diferente de mim. O amor não é mais uma prisão, senão uma relação com, uma construção de infinitas possibilidades que se desvela num mar infinito de probabilidades…dois não são dois, depende de como se combinam. Um não é um, depende daquilo que aceito e me permito vivenciar. Todas nós somos um infinito, como as estrelas do céu … amar é um sentimento infinito e grandioso, dependendo do que escolhemos construir. O amor, a relação consigo, com o outro, é uma construção contínua, escolhemos a cada momento. Você é livre a cada momento para escolher. O que você realmente quer?

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