Capacidade de Superação humana

A existência de obstáculos em nosso cotidiano, muitas vezes nos faz refletir sobre nossa verdadeira capacidade de superá-los. As dificuldades que surgem parecem testar exatamente aquilo que podemos realizar para melhorar nossa situação. Criatividade? Força? Reação? Ação? Do que necessitamos para superar as dificuldades que vivenciamos? Talvez algo mais deva ser analisado: como nos posicionamos diante das dificuldades? Como nos sentimos? Como as percebemos? Como reagimos? Como atuamos em nossas vidas, quando nos defrontamos com problemas aparentemente insolúveis?
Desde os primórdios o “homem” se defronta com problemas, dificuldades, obstáculos a serem superados. No início de nossa espécie a luta pela sobrevivência ocorria através da força física. O homem atuava de modo mais direto na busca pelo seu alimento, caçando sua presa – sua possibilidade de satisfação de sua fome – também construía sua moradia, enfrentava o desconhecido que tanto lhe amedrontava (os fenômenos naturais: tempestades, trovoadas, etc). Sua vida em grupos não diminuiu tais medos, mas favoreceu que de algum modo sobrevivesse a eles.
A vida em grupos sempre foi algo presente na história de nossa civilização. Sim, o “homem” é um ser gregário, que se constrói enquanto indivíduo a partir do contato com o outro. É o grupo, seja ele a família ou outras formas de ajuntamento, que lhe permite sobreviver (quando bebê, o ser humano é completamente dependente do outro em todos os aspectos) e também formar sua identidade, suas crenças, valores, expectativas em relação à vida. É através do contato, das trocas que se estabelecem no grupo que se constitui enquanto ser humano, pertencente a uma espécie dita humana. É a partir do grupo que inicia seu processo de formação e de escolha do que sou eu e do que não sou eu. Partindo daquilo que é aceito naquele grupo, insere-se de alguma forma no contexto cultural que lhe cerca, aceitando-o ou rejeitando-o. Sempre permeado por sua cultura, tem a mesma como seu referencial de escolha ou rejeição. É exatamente neste contexto que se inicia também a formação da auto-imagem, daquilo que percebe como EU, e também daquilo que percebe como sendo capaz de realizar. Daí também as possibilidades de relacionar-se bem ou não com os obstáculos que se interpõem no dia-a-dia à consecução dos objetivos de vida a que se propõe.
Sim, o modo como vivencia os obstáculos são extremamente importantes, pois determinam posturas diante da vida, aquilo que se espera dela e aquilo que se permite realizar por si mesmo. Há pessoas que assumem a postura de “vítima das circunstâncias”, imaginando que “tudo aquilo só acontece com ela”. Esta é uma postura que paraliza qualquer tipo de reação maior, pois a vítima deve ser “salva” e não percebe em si mesma o potencial para sair sozinha da situação que lhe aflige. Tal postura pode ter sido desenvolvida através de um convívio maior com pessoas semelhantes, no entanto, cada um pode alterar sua postura diante da vida. Cada um tem a possibilidade de escolher a postura que deseja assumir em sua vida. Há pessoas, por exemplo, que assumem a postura de “eterno lutador” , e assim enxergam obstáculos por todos os lados, mesmo quando estes não existem. São pessoas que sempre necessitam demonstrar que são fortes o suficiente para assumir qualquer tipo de risco quando, na realidade, também têm suas fragilidades e têm medo de demonstrá-las. Outras buscam o equilíbrio entre a fragilidade e a utilização da força (não me refiro somente à força física, mas principalmente à força para superar dificuldades, utilizando as “armas que se tem”). Enfim, o modo como se posiciona diante dos obstáculos possibilita um tipo distinto de atitude.
As emoções que sentimos quando diante de uma dificuldade, quando percebidas e aceitas, podem ser um grande aliado na superação de dificuldades. No entanto, quando negadas, dificultam ainda mais o desenvolvimento de estratégias realísticas para a resolução do problema. Seria o mesmo que dizer, por exemplo, “sim, existe um problema, mas eu não tenho dificuldade em resolvê-lo”. Sim, então por onde se pode iniciar a resolução desta dificuldade, se se desconhece a maior de todas as dificuldades, que é o lidar com o próprio medo, raiva, frustração, enfim, com todas as emoções genuínas que surgem nestes momentos? Negar a própria dificuldade … pior postura nestes momentos.
Sim, as dificuldades existem! Que dificuldades são estas? Que posso fazer com elas? O que estou aprendendo neste momento com estas dificuldades? O que estou modificando em mim para melhorar minha vida? Sim, estamos em constante mudança! E os momentos difíceis são os que nos ensinam mais sobre como melhorar nossas vidas. Podem funcionar de dois modos: como motivos para lamentações ou como motivos para crescimento. Experimente tirar o S da palavra CRISE. O que permanece? CRIE. Sim, os obstáculos são oportunidades de criar, crescer, desenvolver.
São também oportunidades para re-pensar o modo de viver, o que esperamos construir em nossas vidas, o que desejamos, o que estamos fazendo, o que estamos objetivando, como estamos buscando tornar os sonhos em realidade. Estamos sonhando? Estamos acreditando em nós mesmos, em nosso potencial? As dificuldades nos ensinam tudo isso. E quantas vezes perdemos a oportunidade de aprender tudo isso?
Os obstáculos, acima de tudo, são grandes oportunidades para percebermos que temos um enorme potencial dentro de nós mesmos e que podemos desenvolver a cada dia. Este potencial é tudo aquilo que podemos ser e que a nós basta desenvolver. Podemos assumir posturas positivas diante da vida,podemos também assumir posturas negativas. Podemos assumir o que quisermos, porque temos este potencial em nós. A escolha cabe a cada um. O como enfrentar o dia-a-dia é escolha de cada ser humano. Cabe a cada um a responsabilidade por sua própria vida e pelo que realiza com ela. A capacidade de superação existe em todos nós. Todos podemos despertá-la. A super-ação só é possível quando vivemos no presente, percebendo, estando atentos àquilo que somos hoje, aos nossos sentimentos, atitudes, expectativas. A atenção ao que somos hoje é o ponto de partida para o que construiremos no dia de amanhã. A superação parte do aqui e agora e não do passado, nem do futuro. O passado é história, é parte do que somos hoje, mas só a consciência àcerca do hoje que pode alterar o futuro.
O trabalho de Psicoterapia de Grupo e também de Grupos de Sensibilização atuam no sentido de facilitar esta consciência maior de si mesmo. AS relações que se estabelecem dentro do grupo são altamente facilitadores de uma conscientização mais rápida àcerca do momento presente e também de um maior suporte no sentido de perceber que todos têm suas dificuldades. A superação dos obstáculos pode ser alcançada a partir deste auto-conhecimento e também com o desenvolvimento de um maior suporte interior para enfrentar as situações difíceis do cotidiano.

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