Estamos vivenciando um momento de crise nas relações interpessoais. Sendo a crise uma oportunidade de crescimento e, acima de tudo, de reflexão sobre os padrões de vida, exporemos a seguir algumas questões relevantes no que se refere ao tema SOLIDÃO & ENCONTRO.
Imersos em um meio competitivo, onde aprendemos, muitas vezes, a TER, em detrimento do SER, construímos a cada dia a nossa identidade. Sim, aquilo que sou em essência e as máscaras pelas quais optamos para sobreviver neste meio chamado sociedade. As “máscaras”, as quais denominamos “couraças”, são formas cronificadas de atuar, ou seja, padrões mecânicos de relacionar-se; é uma defesa. Imaginem, por exemplo, uma pessoa que deseja relacionar-se, mas que o seu medo a impede de fazê-lo. O seu medo, nem sempre consciente, gera um conjunto de comportamentos de defesa. A desconfiança é um desses padrões e um dos grandes obstáculos à concretização de relações genuínas e espontâneas. “Já me machuquei tanto, por que devo confiar nesta pessoa?” , ouvimos com freqüência em nossos consultórios de psicoterapia – seja a nível de atendimentos individuais ou de grupo. Tal desconfiança, por vezes, têm seus motivos. No entanto, trazê-la como um padrão de relacionar-se com o outro, gera afastamento. Como relacionar-se, então?
A natureza é sábia e com os animais aprendemos grandes lições. Os porcos-espinhos, por exemplo, são animais que vivem em grupo. No frio juntam-se para aquecerem uns aos outros. Inicialmente essa união é um pouco incômoda, pois uns espetam aos outros. Mas, só há duas opções: ou morrem de frio, ou aprendem a conviver com os espinhos dos outros e sobrevivem, aquecidos. Quantas vezes, em nossas vidas, optamos por “morrer de frio”, não nos relacionarmos? Com que frequência escolhemos nos relacionar e nos mantemos demasiado sensíveis aos espinhos dos outros? Quantas vezes equilibramos a necessidade de estar com o outro e consigo mesmo?
Estar com o outro implica em aceitar também as diferenças, além das semelhanças. Quantas vezes nos relacionamos com uma pessoa idealizada, frustrando-nos posteriormente porque não enxergamos a pessoa real? Quando valorizamos estas idealizações, impossibilitamos a aproximação do outro diferente da pessoa que idealizamos.
A consciência desses padrões é o primeiro passo para alterá-los ou modificá-los paulatinamente. Medo, desconfiança, idealizações existem e todos nós assumimos estas formas de defesa em algum momento. No entanto, a possibilidade do encontro se supõe num encontro primeiro consigo mesmo. A solidão, opção de quem deseja estar consigo, não é de todo ruim. Quando conseguimos utilizar os momentos de solidão como um encontro genuíno com aquilo que sou, possibilito a mim mesmo encontrar o outro.
O trabalho de psicoterapia de grupo é um meio facilitador para este encontro consigo e com o outro. Através do grupo, vejo o outro que existe em mim (as semelhanças), o outro que nego em mim, além do outro diferente de mim. Partindo deste processo de conscientização, facilito o meu caminhar rumo a um viver mais completo, onde eu e o outro podemos nos encontrar…enquanto pessoas completas, em busca de vivenciar o NÓS, com respeito às individualidades.
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